Não bastassem os diversos problemas climáticos que novamente atingem várias regiões do país, o agronegócio brasileiro enfrenta ainda em 2025 um novo desafio: a escalada dos juros. Com a Taxa Selic fixada em 13,25% ao ano – e com perspectivas de aumentar para até 15%, como pode ser visto nesta notícia do Portal G1 (clique para acessar) – o custo do dinheiro subiu consideravelmente, tornando o crédito rural mais caro e restringindo o acesso a financiamentos essenciais para a produção. Esse cenário impõe dificuldades para aquisição de insumos, modernização da produção e renegociação de dívidas, afetando diretamente a rentabilidade dos produtores rurais.
O crédito rural está mais caro e difícil de acessar devido à alta da Selic
Historicamente, os produtores rurais brasileiros dependem do crédito bancário para financiar sua produção, seja para custear a safra, investir em maquinário ou expandir a área plantada. No entanto, com os juros elevados, os financiamentos estão se tornando proibitivos.
Aumento do custo do financiamento
Os financiamentos oferecidos fora do plano safra (crédito rural subsidiado pelo governo) passaram a ter juros próximos ou até superiores a 20% ao ano, um patamar inviável para muitas atividades agrícolas.
Mesmo dentro do plano safra, há um movimento de redução da oferta de crédito pelos bancos, que veem menos incentivo em conceder empréstimos a taxas controladas quando podem obter rentabilidade mais segura aplicando em títulos públicos atrelados à Selic.
Além disso, para aqueles que ainda conseguem acessar o crédito rural, os custos com taxas bancárias, seguros, e exigências de garantias também aumentaram, tornando a tomada de recursos mais complexa e burocrática.
Isso sem contar ainda os vários “penduricalhos” empurrados para o produtor para a liberação do crédito, como as exigências de compras de títulos de capitalização, consórcios, seguro de vida, etc.
Pequenos e médios produtores são os mais afetados
Enquanto grandes grupos do agronegócio possuem alternativas de financiamento privado, como emissão de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), ou acesso a investidores institucionais, os pequenos e médios produtores dependem quase exclusivamente do crédito bancário. Com juros mais altos, essas categorias são as que mais sofrem, tendo que optar entre assumir um endividamento ainda mais caro, com cooperativas ou revendas, ou mesmo reduzir a produção.
Temos observado, inclusive, que em muitos casos os produtores estão adiando investimentos por conta do encarecimento do crédito, o que pode impactar o desenvolvimento do agronegócio e a própria competitividade do setor. Isto que pode refletir em aumento geral no preço dos alimentos, fato que acaba tendo reflexos para toda população.
“Rolagem de dívidas”: um péssimo negócio no momento
Para os produtores rurais que já estão endividados, a tentativa de rolar dívidas se tornou uma decisão delicada. Com a Selic elevada, as rolagens de dívidas, os famosos “mata-mata”, podem resultar em taxas de juros ainda mais altas, aumentando o custo da dívida.
Se nos anos anteriores refinanciar uma dívida poderia ser uma solução para aliviar o fluxo de caixa momentâneo, hoje esse movimento pode acabar gerando um passivo ainda maior, colocando em risco a saúde financeira das propriedades rurais.
O que fazer neste cenário de alta da taxa de juros?
Diante desse cenário, o produtor rural precisa se adaptar rapidamente à nova realidade de crédito mais caro. Algumas estratégias jurídicas fundamentais incluem a revisão de todo o passivo existente para analisar precisamente o que pode ser feito em cada caso.
Por exemplo, pode-se buscar o alongamento de operações de crédito rural, a revisão de encargos em cédulas que contém encargos ilegais, ou mesmo usar a inadimplência como estratégia para se manter um fluxo de caixa adequado no seu negócio
Por vezes, o “não pagar” pode ser uma solução. Basta você estar preparado nos aspectos financeiros, jurídicos e psicológicos para passar por um momento de turbulência visando uma bonança mais adiante.
O fato é que a Selic elevada veio para impor um novo desafio ao agronegócio brasileiro, tornando o crédito rural mais caro e os custos da produção mais altos. Em um cenário como esse, gestão financeira eficiente, planejamento estratégico e gestão jurídica do endividamento são fundamentais para garantir a sustentabilidade da atividade rural.
O momento exige cautela e decisões bem planejadas. Consulte um advogado especialista em agronegócio e saneamento de passivo. O produtor que souber evitar armadilhas financeiras terá maiores chances de atravessar esse período de juros altos sem comprometer seu futuro no campo.
Tobias Marini de Salles Luz – advogado, sócio-fundador da banca LCB Advogados. Contato:
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