Por Renato Pereira (*): Neste final de 2018 a imprensa nacional voltou a publicar dados sobre desmatamento no Brasil, colocando Mato Grosso como vilão do ambientalismo, atrás somente do Pará. A notícia, por si só, é tendenciosa porque mede com fitas iguais realidades diferentes. É fácil entender essas diferenças considerando os motivos que levam ao desmatamento: disponibilidade de matas, claro; interesse econômico; e existência de terras agricultáveis debaixo das árvores. Este conjunto de variáveis está presente em Mato Grosso e Pará, mas não nos outros estados da União. Nas unidades do sul e sudeste, as matas que sobraram cobrem montanhas inexploráveis e, no amazonas, terras alagadas. No nordeste, a recorrente seca impossibilita a agricultura; assim, nessas regiões, quase não há desflorestamento.
Na mesma semana a imprensa internacional divulgava a saída do Japão do Clube Internacional da Baleia e que voltaria à caça desses mamíferos. Aviso desnecessário porque nunca interrompeu essa pesca, a exemplo da Noruega e Islândia. Justificaram os Japoneses que voltam a caçar, mas somente em suas águas territoriais.
A caça à baleia é uma atividade econômica importante no Japão, como a agricultura é para nós. Só que não podemos alegar que vamos derrubar árvores somente em nosso território, sem que o mundo se arvore (com o perdão do trocadilho) como defensor de nossas matas para proibir esse “crime”. Quanto às baleias, houve o chorôrô de praxe e os governantes do mundo se declararam desapontados com a atitude, mas ninguém falou em boicote comercial.
É necessário que os países em desenvolvimento como o Brasil, imponham suas agendas. Claro que não queremos caçar baleias, nem tampouco derrubar florestas, mas simplesmente exigir participação de todos no custoso processo de preservar matas.
Não, não defendo o desmatamento porque, mesmo com o aumento da população mundial e com o acesso de mais pessoas ao consumo de alimentos, não haverá necessidade de incorporar áreas de florestas ao processo produtivo. Com certeza a tecnologia resolverá esse impasse com o aumento de produtividade de plantas e animais e recuperação de áreas degradadas que hoje produzem pouco.
Minha implicância é com a desigualdade: enquanto alguns podem caçar baleias protegidas por leis internacionais simplesmente porque faz parte de sua tradição; outros são obrigados a proteger suas matas, mesmo que tenham dois terços do território coberto por elas – como é o nosso caso – sob ameaças de represálias comerciais.
Acho que o jogo está desequilibrado. Japão, Noruega e Islândia são contra o desmatamento porque não tem clima próprio para agricultura, mas a favor da caça às baleias porque lhes interessa economicamente. Para nós que somos um país tropical a agricultura é fundamental, mas a captura de baleias não. Então vamos propor uma troca, eles param de caçar baleias e nós não derrubamos mais árvores. Ou, melhor ainda, eles continuam capturar baleias e pagam para mantermos a floresta em pé.
Por último: países ricos caçam raras baleias que se reproduzem na média de um filhote a cada três anos, e nós, carentes de proteína animal, não podemos matar jacarés, capivaras e javalis, espécies que já viraram praga e que dão dezenas de filhotes a cada ano.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor em Cuiabá/MT. Contato: [email protected]
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